TROCANDO DE FAIXA
Na década de 80 a METROBEL, órgão que gerenciava o trânsito em Belo Horizonte, resolveu transmitir aos pedestres da capital, noções de cidadania que permitissem o convívio civilizado na comunidade do trânsito. Inseriu agentes nas ruas mostrando aos pedestres a direção que as faixas indicavam para ir e vir, a importância de se atravessar somente nas faixas e a obediência aos semáforos. Para coibir os mais resistentes às mudanças, instalou placas de contenção nas esquinas de várias ruas, direcionando assim os transeuntes rebeldes à travessia segura e correta. Concomitantemente, alertava os motoristas a essas mudanças e, consequentemente a obediência às regras de trânsito. Pois bem, os pedestres se revoltaram contra as medidas, agredindo os agentes da METROBEL e depredaram várias placas de contenção. Restou então à Empresa, acabar com as campanhas e engavetar o projeto de cidadania. Daí até os nossos dias, o pedestre em Belo Horizonte jamais teve um investimento em educação social que o tornasse ajustado às mudanças radicais que esse espaço urbano sofreu. Um aumento intenso de veículos ocorreu nesses 32 anos, de 930 mil para 1 milhão e 500 mil veículos sem que a cidade tenha criado espaços para fazer fluir essa demanda motorizada. Assim, o confronto pedestre e motorista não poderia ter outro resultado que não o de péssima qualidade de convívio, mesmo tendo a população da capital crescido em números menores. Agora, vem a BHtrans lançar uma campanha, com orientação do projeto VIDA NO TRÂNSITO lançado pelo Ministério da Saúde, ignorando o perfil do pedestre que existe em BH e colocando como único responsável pelos 8 atropelamentos diários e uma morte a cada 2 dias o motorista que dirige na capital. Basta observar, em vários pontos da cidade, como ocorre a "invasão" da faixa de travessia quando o semáforo do pedestre está fechado para ele. Basta verificar as travessias mais inusitadas que os pedestres realizam em esquinas e entre os carros, saindo sabe-se lá de onde em correria frenética, "toreando" carros e motocicletas. Presenciamos a todo o momento, pedestres atravessando displicentemente ruas e avenidas com celulares aos ouvidos, desconsiderando o motorista que tem que frear seu veículo e esperar que a travessia se complete. Não estou fazendo a defesa do motorista e muito menos do pedestre. O que registro aqui é minha total desaprovação de um plano de ação que ignora a deseducação do pedestre e pune, de maneira tendenciosa, o motorista. Creio que precisamos avaliar os dois lados dessa relação de conflito e quem sabe, multar também os pedestres. Afinal, as regras de trânsito têm de ser obedecidas por todos nós.
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