EPIDEMIA DO CELULAR IV

Retomo novamente esse tema para registrar que pelo mundo afora, as campanhas contra o uso do celular na direção veicular e nas travessias à pé estão ganhando destaque a cada dia. Europa e Estados Unidos têm intensificado medidas para conter esse avanço que se alastra na mesma velocidade da tecnologia que tornou ilimitada a comunicação do homem. As grandes cidades não são os únicos espaços onde as pessoas se desligam do seu meio e se conectam com os sinais digitais. As cidades do interior também estão infestadas desse aparelhinho que teima em fazer parte da inter-relação das pessoas, obstruindo e distanciando o contato direto entre indivíduos. Os amigos de hoje se comunicam cada vez mais pelo celular, seja para contar um acontecimento banal, seja para desabafar uma frustração. As trocas de afetos como as felicitações de aniversário, de casamento, de formatura se dão através de mensagens de texto, escritas com palavras codificadas, sem poesia nenhuma. Pior são as mensagens de conforto, de pêsames de uma perda familiar, de rompimento de uma relação amorosa que são escritas com um esforço de sentimento que não ultrapassam uma linha no texto. Têm aquelas pessoas que se deitam à noite e colocam o celular debaixo do travesseiro, não sem antes entrar no facebook só para postar que vai dormir. Nas escolas, nos cinemas e teatros, no ônibus, dentro de elevadores, nos banheiros de shopping centers, na ruas, avenidas e estradas, todos estão freneticamente utilizando o celular como opção preferida para "comunicar-se". Comunicações vazias, sem sentido, sem necessidade, pobres de sentimentos, desencontradas, desconexas, inoportunas. Dirão alguns que estou discriminando a utilização de uma tecnologia tão importante nos dias de hoje, o que entendo perfeitamente como sendo necessária. A comunicação humana pela palavra direta, falada ao outro sem recursos tecnológicos também contém todas as características que enumerei acima, mas com a essência da presença  humana dos interlocutores que permite a ambos construir relações verdadeiras. Os pedestres continuam cada vez mais ousados nas travessias de rua com o celular aos ouvidos. Os motoristas continuam cada vez mais ousados na condução de seus veículos pela cidade afora, com o celular aos ouvidos.

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