EPIDEMIA DO CELULAR V


PARE O MUNDO QUE O MEU CELULAR TOCOU!

 

É assim mesmo, sem exageros, que esse comportamento se repete e se multiplica velozmente, por todo o mundo moderno. Aqui, pelas nossas ruas e avenidas de BH não é diferente. A tecnologia trouxe inovações esplêndidas para nossa evolução, mas cobrou um preço enorme de "dependência social" da qual somos todos, indiscriminadamente, vítimas. Portadores dessas invenções tecnológicas, que "aproxima as pessoas", estabelecemos uma relação de submissão a algumas delas, sem a qual nada somos ou podemos. Imaginem ficar sem o celular durante um dia? O computador travou no escritório, o Tablet descarregou na rua, o GPS não localiza o endereço! Ficar sem luz já é coisa do passado. Acende-se uma vela e pronto! Mas ficar sem um desses aparelhos modernos de comunicação é algo aterrorizante para a maioria de seus usuários. Quando disseram há algumas décadas atrás que o robô substituiria o Homem, poderiam ter dito também que o Homem se transformaria em um robô. Na verdade esse processo de transformação está em curso, pois os celulares já são o cérebro de muitos humanos por ai. Em nosso trânsito esquizofrênico, onde nada é nada e tudo é tudo, a inclusão do celular foi invasiva. Os modelos de veículos já se adaptaram para ele de maneira absurda! Só falta agora, vender veículos com celulares no painel. Mas o que me motivou a escrever esse texto foi o domínio que o toque da chamada do celular provoca no motorista. Nem o apito do guarda de trânsito tem poder semelhante. É mais fácil um motorista em trânsito obedecer ao toque do celular do que parar mediante o silvo do apito do guarda. Essa relação de dominância é muito curiosa. O condicionamento respondente, estudado por Ivan Pavlov, demonstra claramente o quanto se estabeleceu essa relação entre o usuário de celulares no trânsito e seus aparelhos. O que é pior constatar são as consequências desse reflexo condicionado. No mesmo instante em que o celular toca, o indivíduo desloca seu conjunto da atenção (concentrada e difusa), para o reflexo condicionado de atender à chamada, criando nesse exato instante, uma renúncia das exigências veiculares em favor de outro estímulo que ele condicionou ter prioridade. É nessa fração de milionésimos de segundo que todo o contexto da segurança no trânsito fica à mercê da ligação telefônica. Os veículos em torno desse motorista ao celular, os pedestres que circulam na proximidade, as regras do trânsito que terão que ser observadas, a qualidade da direção que estará sendo praticada, tudo ficará para um segundo plano quando esse aparelho de celular tocar. Ele tem prioridade sobre tudo à volta. No percurso da direção veicular, esse motorista terá então, outra conduta de adaptação e de improviso perante o ato de dirigir, tornando-se refém da ligação telefônica enquanto ela durar. Independentemente da natureza da conversação, seja ela agradável ou não, esse comportamento estará seriamente comprometido e não se enquadrará em nenhuma hipótese, na condição de segurança no trânsito. Esse efeito comportamental que o celular provoca no indivíduo não se restringe ao motorista (que hoje vemos conversando no transito, seja ele motorista de veículo, de ônibus, de viaturas militares ou ambulâncias, vans escolares e tantos outros). Outro dia vi um carroceiro em trânsito, conversando ao celular e chicoteando seu cavalo na Avenida Francisco Sales, próximo à área hospitalar da cidade. Os pedestres estão assustadoramente falando ao celular nas suas travessias. O que observo, ainda mais agravante, é que eles levam o celular ao ouvido do lado em que deveriam estar olhando o tráfego para atravessar! Essa relação perigosa vem tornando ainda pior o convívio na comunidade do trânsito. Quando estive escrevendo esse texto, desliguei meu celular. Se o seu tocou durante essa leitura, melhor começar a ler o texto novamente.

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